A realidade WEIRD e as pesquisas em Psicologia Cognitiva da Religião


Marcia Regina Chizini Chemin[1]

Evelyn Christine Amorim [2]

Karine Costa Lima Pereira[3]

Resumo

Pesquisas executadas a partir de realidades limitadas com a intenção de apresentarem resultados significativos para a maioria tendem a trazer de fato uma sub-representação. Amostras WEIRD, ou seja, as que são marcadamente formadas por pessoas brancas, educadas, que vivem em sociedades democráticas, ricas e industrializadas, são de fato estranhas como significa o termo em si, como um adjetivo. Como sigla em maiúsculas designa uma tipologia que não dá conta de explicar situações, emoções, comportamentos comuns a todas as pessoas. Como é que podem ser estabelecidos parâmetros tendo apenas uma fatia da população analisada, quando tal fatia tem situação diferenciada a seu favor enquanto é minoria nessa própria situação? Resultados deveriam ser assumidos como singulares, apenas para tal fatia, isso porque não poderia ser tomado como critério de correto, normal, adequado, razoável e comum, portanto, podendo ser tomado como algo a ser alcançado. Qual o ritual religioso é o mais adequado para a sociedade, aquele da maioria WEIRD, aquele que vai corresponder a pessoas com comportamentos semelhantes à amostra pesquisada? Será que as pesquisas auxiliam a determinar o que está no centro e o que está na margem porque não se enquadra ao pensamento das pessoas WEIRD? Ou seja, pesquisas em contextos não WEIRD não são contingentes, são da ordem da necessidade, para alargar a compreensão e deixar emergir microcosmos onde as pessoas se reconhecem, apesar dos referenciais que lhes são impostos. Miguel Farias tem estudado as religiosidades que estão à margem no Brasil, e no mundo, e propõe: o que é válido para tal cultura atravessa as demais culturas, as inúmeras culturas? O que é particular a determinado contexto tem alguma validade externa a este? Do que, é preciso iniciar qualquer pesquisa, depois de se ter uma questão norteadora, com a humildade de entendimento sobre as limitações dos métodos. Chama a atenção para o dualismo presente, capilarizado, e perigoso, pois reduz e traz em seu bojo relações de disputa de poder ou de assunção de poder. Serão mesmo apenas dois os modos de processar informações no escopo da Psicologia Cognitiva da Religião? E como acessar, e a partir de que métodos experimentais analisar os dados recolhidos de fatias diferentes representativas dos mais variados modos de viver e crer? E as barreiras dadas entre pesquisadores/as e participantes de pesquisas... tantas outras serão as perguntas que propõe a reflexão de Farias. Por fim, talvez os dados de pesquisa devam ser buscados pelas pessoas de dentro do grupo pesquisado, e então analisados conjuntamente, também a partir do entendimento de quem está dentro daquele determinado contexto.

[1] Doutora em Teologia (ético-social). Mestre em Bioética. E-mail: maychizini@yahoo.com.br

[2] Psicóloga. Mestrado (em andamento) em Bioética pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética (PPGB) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: amorim_evelyn@hotmail.com

[3] Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica. Doutorado (em andamento) em Teologia PPGTeologia-PUCPR. E-mail: kpereira.psicologia@gmail.com