A moralidade como um receptáculo de vários “sabores”


Luciana Soares Rosas[1]

Evelyn Christine Amorim[2]

Karine Costa Lima Pereira[3]

Resumo

A parte II do livro “A Mente Moralista – Por que pessoas boas são segregadas por política e religião”, de autoria do psicólogo social Jonathan Haidt, com o título “A moralidade envolve mais do que dano e justiça” apresenta como metáfora central da discussão que a moralidade é como uma língua com seis receptores de sabor. A partir desta constatação, o autor apresenta como os sistemas morais são formados em sociedades WEIRD (Ocidental, Educada, Industrializada, Rica e Democrática) e sociedades não-WEIRD. O autor destaca que para sociedades WEIRD, o mundo é uma coleção de coisas separadas e não relacionadas, dando origem a sistemas morais baseados em conceitos individualistas, universalistas e condicionados à regras. Já para sociedades não-WEIRD, o mundo é relacional, de contextos e grupos, dando origem a sistemas morais que prezam as necessidades do grupo em detrimento das necessidades individuais. A partir desta constatação, o autor apresenta três éticas, a saber: a ética da autonomia, na qual as pessoas são vistas como indivíduos autônomos, com desejos e com o direito de satisfazê-los, dando origem a sociedades individualistas; a ética da comunidade, na qual as pessoas são membros de uma entidade maior, o que privilegia valores tais como a hierarquia, o respeito e o patriotismo e, finalmente, a ética da divindade, na qual as pessoas são portadoras transitórias de uma alma divina, filhos e filhas de Deus, dando origem a sociedades nas quais valores como santidade, pureza, pecado, elevação e degradação são alicerces importantes. A partir desta discussão da diversidade de formação das sociedades, Haidt apresenta que as nações são constituídas pelo que ele chama de “matrizes morais” e constata que “somos múltiplos desde sempre”. Outro conceito importante apresentado nesta sessão e que é desenvolvido por Jonathan Haidt e Craig Joseph é o da “Teoria dos Alicerces Morais”, a qual identifica os desafios adaptativos da vida social, conectando as virtudes e valores que estão presentes nas diversas culturas. Neste sentido, apresentam como fundamentos da moralidade: cuidado, justiça, lealdade, autoridade e santidade. As discussões da parte II da obra preparam e abrem a perspectiva de compreensão das razões pelas quais pessoas boas, em grupos diferentes, podem ser hostis umas com as outras. Este ponto será desenvolvido na parte III “A Moralidade Agrega e Cega”.

[1] Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduanda em Psicologia e Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: lucianasoaresrosas@gmail.com

[2] Psicóloga. Mestrado (em andamento) em Bioética pelo Programa de Pós-Graduação em Bioética (PPGB) da Pontifícia Iniversidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: amorim_evelyn@hotmail.com

[3] Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica. Doutorado (em andamento) em Teologia PPGTeologia-PUCPR. Email:kpereira.psicologia@gmail.com